Clima de Pelotas e a saúde
Umidade, chuva e frio: uma ameaça à saúde
No inverno, moradores de Pelotas têm que lidar com o agravamento de doenças crônicas e a presença constante de fungos
Carlos Queiroz -
Nas últimas semanas foram raros os dias em que a umidade relativa do ar, em Pelotas, não esteve na casa dos 90%. Essa circunstância, combinada com a chuva frequente, tem formado um cenário ideal para a proliferação de fungos e outros microrganismos que agravam e geram doenças respiratórias.
O inverno é naturalmente a estação em que se acentuam algumas doenças relacionadas ao sistema respiratório, como gripe e resfriados - isso em razão do frio, que facilita a replicação de vírus. Em Pelotas e em outros municípios pessoas que têm patologias crônicas são mais prejudicadas ainda pela alta umidade.
A pneumologista Helena van der Laan, explica que pacientes com doenças respiratórias, como os quadros de asma, de rinite, sinusite, enfisemas pulmonares, além dos tabagistas, integram os grupos de maior risco e tendem a ter exacerbadas essas condições patológicas no clima úmido.
Além disso, de acordo com a médica, a combinação entre ar excessivamente úmido e frio, que propicia o aumento da proliferação de vírus e bactérias, atinge também em grande escala as pessoas que não possuem nenhuma doença respiratória crônica. "Então pessoas que são saudáveis, quando elas têm a associação desses vírus que causam gripes e resfriados, a umidade alta, esses sintomas ficam também bem exacerbados nelas. Começa com a obstrução das vias aéreas superiores, coriza e muita tosse", esclarece.
Outro fator de risco para todas as pessoas, independentemente de já possuir alguma doença crônica, é a proliferação de fungos, que formam as estruturas conhecidas como mofo e bolor. Geralmente, por causa da umidade, essas formações aparecem nas paredes e em outros locais de residências. "Isso é perigoso para todos, tanto para os previamente saudáveis, quanto para aqueles com doenças respiratórias", afirma.
Segundo Helena, a inalação de esporos de mofos, partículas que ficam no ar e pelas quais o fungo se reproduz, acentua os quadros das doenças respiratórias e pode causar outras patologias graves como pneumonia.
Efeitos da umidade
Uma dos pelotenses lida constantemente com a presença da umidade e o surgimento de fungos dentro de casa é a recepcionista Estefani de Oliveira. Moradora do bairro Areal, ela relata que, em seu apartamento, a incidência de mofo surge antes mesmo do inverno começar - desde maio os bolores aparecem próximo às janelas de todos os cômodos da moradia e vão se espalhando pelas paredes até chegar ao chão.
"Fica tudo muito úmido e todas as janelas mofam, as paredes da sala, da cozinha... O apartamento em si é cheio de umidade, parece que não tem circulação de ar", conta.
A recepcionista explica ainda que, nos dias de chuva, a situação fica mais crítica. Nos períodos de umidade mais intensa, chega verter água do chão e das paredes do imóvel. "Parece que alguém jogou água. Nada seca, é porta de banheiro inchada, tudo estraga", resume.
Além da situação ser desagradável, é ainda muito perigosa para a saúde de Estefani, que tem dois quadros de doenças respiratórias: sinusite e rinite. Não coincidentemente, os episódios de tosse e espirros começaram a piorar no mesmo período em que o nível de umidade relativa do ar aumentou na cidade. "No final de maio e durante junho eu andava muito gripada e bem atacada da sinusite", relata.
Cuidados e prevenção pessoal
A pneumologista Helena explica que, para se prevenirem das doenças respiratórias nesta época do ano, é essencial que as pessoas se vacinem. "Para quem tem doenças crônicas ou outros fatores de risco é muito importante se vacinar contra a Influenza. Além disso, manter o uso da máscara, pois ela acaba diminuindo a propagação dos alérgenos e dos vírus, filtrando esses microrganismos".
A médica também oferece algumas dicas para lidar com a situação: "Manter o ambiente seco, desumidificar o ar, verificar as paredes de armários e guarda-roupas, tentar deixar os móveis a uma distância das paredes dos cômodos para que não haja uma proliferação do mofo para dentro dos móveis de madeira. Esses são os principais cuidados que as pessoas que moram em locais mais propensos à umidade precisam ter frequentemente".
Além disso, é importante ventilar o máximo possível os ambientes, principalmente banheiros e cozinhas, já que - por conta do vapor de panelas e da água quente dos chuveiros - esses ambientes tendem a ter um maior acúmulo de umidade.
Clima
O meteorologista Fernando Rafael explica o porquê de Pelotas ser tão úmida na maior parte do ano. Segundo ele, esse clima se dá principalmente pelo fato de a cidade ser plana. "Há uma dificuldade maior de escoamento das águas da chuva, além de ser um local costeiro e rodeado por grandes corpos fluviais. Corpos d'água ao redor da zona urbana da cidade, agregados ao relevo plano, favorecem o acúmulo da quantidade vapor de água no ar", pontua.
Rafael ainda esclarece um mito que muitas pessoas que moram em Pelotas já devem ter ouvido: que a cidade é uma das mais úmidas do mundo. "O município não é nem um dos mais úmidos do Rio Grande do Sul. Rio Grande e Torres, por exemplo, cidades próximas ao oceano, são mais úmidas que Pelotas".
A média relativa do ar no município, anualmente, é de 80,1%. Já em outras cidades do país, como Barcelos e Benjamin Constant, ambos no Amazonas, a média atinge 90%.
O meteorologista ainda conta que a umidade deve seguir alta pelos próximos dias. Ao contrário das previsões iniciais para a Zona Sul, julho não será um mês seco e nem de frio intenso. A chuva deve continuar presente e constante até pelo menos o fim da primeira quinzena do período e as temperaturas serão mais amenas. "Isso em razão de um sistema de alta pressão associado a uma massa de ar seco e quente sobre o interior do Brasil", explica.
Média normal de umidade (1991-2020), anual:
Pelotas: 80,1%
Rio Grande: 80,4%
Caxias: 81,4%
Torres: 82,3%
Barcelos - AM: 91,2%
Benjamin Constant - AM: 90,1%
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